O blog

Neste blog, tento descrever um pouco da rotina, descobertas, dificuldades, desafios, conquistas e principalmente as alegrias que esse esporte fascinante que é o triatlhon, me proporciona. Sou um atleta amador, amador porque amo o Triatlhon!

Espero que gostem!


Adriano Nascimento.




domingo, 27 de maio de 2012

IRONMAN Brasil 2012


Na área de Tramsição no sábado.#798
  É chegada a hora de encarar meu maior desafio até então... Embarquei para Florianópolis na quinta feira, e já na saída tive alguns problemas com a GOL. Realmente não consigo imaginar um evento de grande porte no nosso país, com uma infra-estrutura e pessoal tão despreparado, mas que venham a Copa do mundo e as Olimpíadas e seja o que Deus quiser!
   
  Chegando a Florianópolis, muita chuva o que me impossibilitou de treinar na sexta, como previsto. As previsões para o dia da prova(domingo 27/05) eram de provável chuva e frio, assim manter a tranquilidade e preparar as sacolas de specials needs com roupa seca e quente, era o que poderia ser feito. No sábado a tarde, aprontei tudo na área de transição. A natação no mar não foi possível com estava previsto devido ao frio e a chuva, porém nadei um pouco na Endless Pool da Aquasphere, piscina ideal para treinos de aperfeiçoamento da técnica dentro da água. Aproveito para agradecer o pessoal da Aquasphere pelo espaço e toda atenção que me foi dada.

   Enfim chega o dia da prova, acordei as 4 da manhã, e após uma refeição reforçada, segui para a área de transição, que por sinal foi uma das maiores dentre as provas que participei. Dois mil e duzentos atletas faziam checkin, e ainda assim organização se mantinha impecável. Um trabalho fantástico feito por dois mil Staffs, desde a pintura dos números, até a tão esperada linha de chegada. Depois de  tudo pronto na transição, corri para o local da largada onde grande parte dos atleta já estavam prontos para cair na água, ao som de música eletrônica e do agito do grande público já presente. O dia estava amanhecendo em Jurerê, o clima estava bom, céu com poucas nuves e um pouco de frio, contrariando as previsões, graças a Deus! Estava tranquilo e curtindo bastante aquela clima, energia. Me sentia muito feliz e grato a Deus por estar alí. Chegou a hora, hora da festa, de se divertir!!
Largada as 7:00 da manhã, 2.200 para encarar os 3.8km de natação + 180km de bike+ 42,15km de corrida.
   Após o "toque da corneta", na corrida para o mar, um filme se passou em minha cabeça, em segundos... Apesar de toda energia desprendida, me senti um privilegiado por ter vencido tantas batalhas pessoais para estar largando ali. Me senti honrado ao lado daqueles atletas, cada um com sua história, suas vitórias e derrotas pessoias, mas todos com um unico intuito: Superar os 226km que nos separavam, naquele momento, da linha de chegada. Passei a admirar e respeitar ainda mais, cada um deles. Não se trata somente do que cada um treinou, ou da capacidade fisica de cada atleta, mas de tudo que se abriu mão, de toda disciplina aplicada, de toda capacidade de gerenciamento de tempo e prioridades, de todas escolhas e de manter o foco durante pelo menos 6 meses consecutivos em um objetivo.
Início da natação, "mar de gente".

   Enfim, palavras são somentes palavras, impossível descrever o sentimento que tomou conta de mim naquele instante. Por outro lado, impossível narrar essa prova com racionalidade, até porque pouco há de racional nessa história. As distâncias, os custos de tempo e dinheiro desprendidos, e tudo que se abre mão durante a fase de preparação. Isso tudo me faz duvidar daquilo que aprendi na escola, a respeito do homem ser realmente um ser racional. Não seria melhor mudar os livros, chamar o homem de ser emocional?

  Com toda certeza, falar da prova é bem mais facil que descrever os sentimentos que tive desde que decidir encarar uma prova de Ironman, assim vamos ao que interessa:

Completanto a primeira metade da natação, muito pela frente.
 Larguei ao lado do amigo Valderes Almeida, mas logo nos perdemos em meio aquela multidão. Comecei a nadar tranquilo, num ritmo moderado. Demorei bastante a encontrar o rtimo dentro da água, até mais que imaginava... Motivo: O grande número de pessoas na água, mas não é todo dia que se sai para nadar acompanhado de 2199 pessoas. Chutes e tapas foram inevitáveis, e em alguns momentos chegaram a incomodar de verdade. Impossivel escolher a melhor trajetória de navegação, simplesmente fui levado pela multidao até a primeira bóia. O pelotão não permitia mudanças de ritmo ou direção. Ao contornar a segunda bóia, a navegação ficou mais facil, e ai consegui até aumentar um pouco o ritmo da natação. Ao sair da água para concluir a primeira perna, me senti bem apesar de um pouco de incomodo no pescoço causado pela roupa de borracha. A segunda perna, pareceu bem mais rápída que a primeira, apesar da forte corrente na saída do mar. Terminei aquela natação em 1:13:44h, até um pouco abaixo do que havia planejado, mas sabendo que por se tratar de uma prova muito longa, toda cautela seria pouco.

   Na T1, demorei um pouco mais que previsto, já que decidi nadar usando somente sunga por baixo da roupa de borracha. Assim a troca da roupa com o corpo molhado atrasou um pouco as coisas. Logo eu estava pedalando e essa seria a parte mais tensa da prova, por ser a mais longa e decisiva. A partir desse momento, fatores como hidratação, nutrição, frequencia cardíarca, clima, entre outros, passam a ter uma influência bem maior no resultado final da prova.
Já na bike, câimbras e muita vontade de seguir na prova.


  Na etapa do ciclismo, saímos de Jurerê, em direção ao lado sul da ilha. Um percurso formado por duas voltas de 90km cada, com sua grande maioria plano e asfalto bom, o qual estudei nos dias que antecederam a prova. Tudo para ser um pedal rápido, e ainda sair com pernas prontas para correr. Porém imprevistos acontecem, e paguei muito cara por uma decisão errada logo nos primeiros quilômetros de pedal. Acho que o clima umido da noite anterior, fez com que a amarração de esparadrapos que sempre uso para prender os repositores de carboidratos, se soltassem. Resultado, tudo ao chãona primeira curva feita com a bike. Na ânsia de não perder tempo, resolvi não parar para pegar e tentar fazer a prova com o que tinha nas sacolas de special needs, além do que os staffs serviriam durante a prova. Tomada essa decisão(que mais tarde ví o quanto foi errada) e mudada a estratégia, mantive o foco na frequencia cardíacara recomendada pelo meu treinador. Fiz uma primeira volta rápida o que me deixou bastante animado com relação a previsão do tempo total da prova.
Passeio de 180km por Floripa, show!

  Só que perto da metade da segunda volta, comecei a sentir caimbras no vasto medial, da musculatura anterior da coxa. Estranho e totalmente incomum isso, pela própria ultilização dessa musculatura, bem como na fase de treinamento nunca ter sentido nada parecido. Houve um momento que precisei parar e descer da bike para alongar as pernas, na tentativa de diminuir aquele incomodo. Enfim, o trecho de bike, se tornou bem mais dificil que previsto, mas tentei me manter concentrado e calmo, na esperanca de terminar logo aquele pedal, e sair para correr.
 
  Um pedal de 180km é bem demorado, 5:50:11h nesse caso. Algo em torno de 20 minutos a mais que a previsão, mas isso já não mais importava naquele momento. a questão não era mais que tempo iria concluir a prova, e sim concluir a prova. Estranho, mas as fortes dores causadas pelas câimbras, me fizeram aproveitar a prova de uma forma diferente. Vivi cada momento de forma mais intenso. Assim, cada pessoa que cruzava, cada paisagem no caminho, cada cena vivida, se tornaram mais latentes aos meus sentidos. Pude sentir de maneira bem forte por exemplo, a energia do público presente em Jurerê ao seguir para a T2, quando passavamos em um "corredor" formado por pessoas que incetivavam todos os atletas com gritos e palavras de força...

  Ao chegar a T2, alivio por poder colocar os pés no chão. Além das câimbras nas pernas e fortes dores no pescoço, sentia a esperança de "soltar" na corrida. O fato de não ter dado a devida atenção a nutrição durante a prova, estava me custando caro. Transiçao rápida, e logo estava correndo. Me senti muito bem naquela hora, as pernas soltas e um ritmo constante, além da sensação de que a linha de chegada estava cada vez mais perto.
Corrida, 42,195km de muitas emoções.

  A maratona em Jurerê, é formada por 3 voltas. Uma maior de 22km e duas menores de 10km cada. A primeira volta parece não ter fim, não somente pela distância, mas pelas subidas e descidas do percurso, que castigam ainda mais o corpo e a mente do atleta. Ao término da primeira volta, cada atleta recebe uma pulseira amarela. Uma sensação de alívio e ao mesmo tempo de ânsia pela pulseira azul, que seria entregue ao final da segunda volta toma conta... Ao finalizarmos cada volta, passávos por uma grande concentração de pessoas, que incentivavam todos atletas que alí passam, uma verdadeira festa em Jurerê.

  Já com a pulseira azul na mão, me sinto mais forte. Só faltam 10km de corrida e o sol já começa a se despedir de nós. Vejo alguns atletas que já concluiram a prova, ao mesmo tempo que ainda vejo atletas sem nenhuma pulseira, o que significa que ainda estão na primeira volta da corrida. Cada um no seu ritmo, cada um com sua história...

Poucos entenderão...
 Precisei caminhas por alguns momentos, as caimbras ainda incomodavam... Dores, cansaço, fome, vontade de parar, tudo isso misturado com a energia acumulada durante toda fase de preparação, bem como ao desejo de cruzar aquela linha e acabar logo com "aquilo". Aos poucos, metro a metro permaneci avançando...

  Enfim,  cheguei ao 40º quilômetro da corrida, faltam apenas dois... O que marca no relogio já não importa mais. O ritmo agora é defenido pela vontade de terminar aquela prova, porque as energias já se foram... Desde do km 35, não consigo comer nada, nem sequer beber água... Já é noite em jurerê, mais ainda consigo ouvir umas poucas pessoas desconhecidas que me incentivam a continuar correndo... Ao meu lado alguns caminham, outros param pelo caminho, outros precisam de ajuda das equipes médicas... A minha frente, muitos já concluiram a prova... Ao mesmo tempo a maioria dos que largaram, ainda estão na "batalha"... Já escuto o som que toca na linha de chegada, vejo as fortes luzes, sinto a energia... Cada vez mais perto, cada vez mais pessoas me incentivam... Música eletrônica toca na linha de chegada... Cada vez mais perto.. Já não sinto as pernas, somente o coração... Escuto meu nome chamado pelo locutor, luzes mais fortes... É a linha de chegada, enfim... Terminei, terminei!


Um dia já me pareceu impossível encarar uma prova de IRONMAN, hoje impossível é descrever o que senti durante esse jornada..È bem mais que uma prova de Triathlon, é bem mais que todo esforço envolvido, é bem mais que uma simples prova de  IRONMAN! Poucos entenderão...

Adriano Nascimento - Tempo 12:08:12h - 205º Lugar na F.E. 30-34 anos. - Obrigado meu Deus!


4 comentários:

  1. Campeão, seu relato me deixou verdadeiramente emocionado. Durante os minutos em que o li, consegui me colocar exatamente no seu lugar. Cheguei quase a sentir suas dores, suas angústias, mas, acima de tudo, o êxtase por estar ali, por ter concluído a prova. Melancolicamente, lembrei que os anos vêm inexoravelmente passando para mim, o que torna minha visão de uma prova deste tipo apenas um sonho, materializado por um amigo, por quem tenho uma profunda admiração. Noutro nível, tanto técnico quanto esportivo, tenho pequenas amostras cotidianas deste êxtase, ao me superar nos trechos de MTB que pratico, geralmente com pessoas bem mais jovens. Definitivamente, pouquíssimos entenderão seus escritos. Mas muitos absorverão a grandeza dos seus atos e das suas conquistas. Os atos falam por si. Já as palavras, só falam profundamente aos corações de quem tem sensibilidade. Abraço, irmão.

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    1. Fabão, como bem entendeu, não se trata somente do esporte ou do tipo/distância da prova... A vida e seus desafios, são bem maiores que tudo isso, só resta a cada um de nós seguir seu caminho, enfrentar suas batalhas próprias... Aspectos relativos a desempenho são sempre dependentes de fatores que muitas vezes não controlamos, e diante da imensidão da vida podem ser considerados superficiais. Por isso, todos que se esforçam e dão o melhor de si, têem sempre motivos para se sentir como vitóriosos no esporte ou a vida! Assim se considere irmão!! Grande abraço.

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  2. Parabéns Adriano.

    De fato seu relato é emocionante e só me dá mais energia para continuar com meus pequenos treinos matutinos. Como disse Fábio, as "pequenas amostras cotidianas deste êxtase" é o que nos move. É muito bom ter um atleta como você mesmo se descreveu, emocional, para ajudar-nos a nos manter conquistando-nos a nós mesmos todos os dias.

    Novamente parabéns, e vida longa ao esporte e à superação.

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    1. Boa Nigini! Que nos treinos, pequenos ou grandes, possamos desfrutar dessas emoções que o esporte nos proporciona!! Abraço.

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